Dois pesos, duas medidas
A TV exibia uma reportagem sobre um jogador de futebol (que por decoro não nomearei), com aqueles pormenores da vida privada que a crônica esportiva chama de extracampo: muito dinheiro gasto com frivolidades, festas, orgias, excessos, a total falta de regras. Nem tudo era dito. Mas a imaginação sacava os detalhes... O telespectador sabia que era um moço nascido na favela, que, por ser um jogador talentoso, ganhara uma fortuna e que, precocemente, era o retrato da decadência. Foi então que um camarada meu, quebrando o silêncio, fez um comentário: "Esse cara vai voltar pra favela. E é bem feito!". Surpreso com aquele juízo sumário, perguntei: "bem feito por quê?". A resposta veio de bate-pronto: "Ele teve todas as oportunidades na vida. Um cara que já jogou na seleção, que ficou rico e famoso, que se tornou um ídolo, só de palhaço põe tudo a perder. Tem mais é que se ralar!". O tempo passou. Mas a memória - que costuma atuar por conta própria e liga o que...