Brasil quer ser hub digital... E pode virar apenas colônia tecnológica.

O governo lançou, com estardalhaço, a chamada Política Nacional de Data Centers (ReData). A medida provisória seria para desonerar servidores, cabos, refrigeração e toda a parafernália necessária para erguer mastodontes digitais em solo brasileiro. A promessa é bonita: soberania digital, dados processados aqui, empregos qualificados e energia limpa.

Só que a realidade é sempre mais dura do que a narrativa.

Soberania ou submissão?

O Brasil hoje processa apenas 40% dos seus dados dentro do próprio território. O resto é exportado para servidores estrangeiros, o que custa caro e compromete a privacidade nacional. A lógica do governo é simples: dar isenção fiscal para atrair gigantes como Amazon, Google, Microsoft... E aí está o dilema: soberania digital não se compra com desoneração fiscal. Se não houver uma política de incentivo à indústria local, de fortalecimento da cadeia nacional de tecnologia, corremos o risco de apenas bancar a conta para que os estrangeiros montem suas caixas pretas por aqui e continuemos dependentes de Washington e do Vale do Silício.

Enquanto isso, Donald Trump impõe tarifa de 50% sobre exportações brasileiras. Isso atinge em cheio o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação. Ou seja, de um lado, Brasília abre mão de impostos para atrair capital estrangeiro; de outro, a maior potência econômica do planeta se prepara para taxar nossa indústria. O resultado é óbvio: ficamos no meio do fogo cruzado, sem musculatura para competir.

E há outro detalhe incômodo. Data Centers exigem energia firme, barata e estável. O governo fala em carbono zero, em fontes renováveis, eficiência hídrica. Muito bonito para o discurso ESG, mas, no país onde a transmissão de energia vive em crise e a burocracia paralisa licenças por anos, a promessa pode virar apenas greenwashing subsidiado com o seu imposto.

O futuro em jogo

O ReData pode, sim, colocar o Brasil como polo de inteligência artificial e serviços digitais na América Latina. Para isso, é preciso: garantir energia confiável e barata; simplificar licenciamento e cortar o chamado "custo Brasil"; exigir contrapartidas reais em P&D, empregos e tecnologia nacional - e não só um carimbo burocrático; e defender os interesses brasileiros nas mesas de negociação internacionais.

Sem isso, o que teremos será apenas mais um capítulo da velha novela: subsídios para estrangeiros, tarifas dos americanos e a eterna condição de colônia tecnológica. E esse é o debate que ninguém no Planalto gosta de travar... O Brasil precisa decidir se quer ser dono do seu futuro digital ou apenas inquilino de luxo dos gigantes estrangeiros.

Por André Costa

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