O jogo está virando
Depois de esgoelar financeiramente Alexandre de Moraes por contumaz violação de direitos humanos no Brasil, o governo norte-americano decidiu aplicar o mesmo garrote da chamada Lei Magnitsky à esposa do ministro do Supremo Tribunal Federal. A decisão de sancionar Viviane Barci de Moraes causou espanto e indignação em vozes influentes da sociedade brasileira, da mídia aos salões do poder - mais ainda no palácio da realeza, digo, no STF. Muitos súditos, pessoas simples que tocam suas vidas placidamente, de vez em quando espiando uma coisinha ou outra que sai no Jornal Nacional, também estranharam. Se se tratasse de uma transmissão esportiva de anos atrás, Galvão Bueno lançaria a sua pergunta tradicional em assuntos de arbitragem: "Pode isso, Arnaldo?"
Pode. Pode isso e muito mais, como teria ficado claro para muitos se nós, jornalistas, não tivéssemos falhado em nossa obrigação de vigiar e apontar os abusos do poder e dar voz, ou mera escuta, às pessoas simples do povo que caíram na armadilha jurídico-política do 8 de janeiro . Tudo o que passou batido pelo noticiário acabou sendo documentado e abastecendo os diferentes setores que, no âmbito do governo americano, analisam se um indivíduo, em alguma parte do mundo, deve ou não ser punido com a "Global Magnitsky". A lei leva este nome em memória do ucraniano Sergei Magnitsky, morto em um cárcere russo, iniquidade semelhante à que vitimou Cleriston Cunha, o Clezão, na Papuda.
Familiares e dependentes de gente humilde perseguida por Moraes sofreram com suas decisões de bloqueio de pagamentos de benefícios sociais como BPC e Bolsa Família, mas, voltando ao bordão esportivo, agora de Arnaldo Cezar Coelho, a reação foi " Nada. Segue o jogo!". Agora, o jogo virou para Alexandre e para sua mulher, impedidos de ter conta bancária e cartão de crédito. Washington apurou que Viviane é controladora do escritório de advocacia da família e também de um até então desconhecido "Instituto Lex de Estudos Jurídicos", entidade de atuação nula, mas cujo patrimônio se tornou milionário com a aquisição de imóveis de alto padrão em operações que impressionam pelas cifras envolvidas, e pela forma de pagamento: à vista.
O enriquecimento da família do ministro Alexandre de Moraes é um caso que instala na sala de estar do Brasil um estridente debate - por enquanto sufocado - sobre conflito de interesses na mais alta instância do judiciário brasileiro. Há outros ministros, além de Moraes, beneficiando-se da decisão que o STF tomou em 2023, em proveito próprio, decidindo que juízes podem, sim, julgar casos de interesse de escritório de advocacia de cônjuge, familiar ou parente (ver coluna " O acasalamento", 16.8.2025).
O absurdo não pode ser normalizado .
Eugênio Esber em GZH de 26/09/2025




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