Tope a briga, ministro

 

"Está incompleta", queixou-se Gilmar Mendes a um amigo depois de ler nesta coluna a lista de 20 culpados sem cura que livrou da cadeia. "E os outros?"

"Não cabia todo mundo", ponderou o confidente. A lista completa é mais extensa que o desfile de bandalheiras do Sérgio Cabral.


"Não custaria lembrar que não fujo de briga, mas sei perdoar e às vezes tenho de lutar para não chorar", lastimou o inventor do pranto convulsivo sem lágrima. "Precisei tomar água até na despedida do Barroso."


Comovida com a decepção do decano do Supremo Tribunal Federal, a coluna tratou de resgatar na internet vídeos e reportagens que documentam o lado brigão do queixoso. Vídeos gravados em Lisboa informam que finge não ouvir os inevitáveis insultos berrados por brasileiros que reconhecem aquele sessentão de tênis zanzando pelas ruas. A vontade de
mandar prender é traída pelo sorriso amarelo e pelo olhar de quem examina vitrines imaginárias. É nas dependências do STF que recupera a confiança nos superpoderes conferidos pela toga.


No caso de Gilmar Mendes, a certeza de que é um homem especialíssimo costuma manifestar-se em bate-bocas de ruborizar brigão de cabaré de antigamente - e, de vez em quando, em reconciliações enfeitadas pela infiltração de juristas alemães no palavrório em juridiquês erudito. Foi assim na sessão em que Luís Roberto Barroso anunciou que decidira aposentar-se.


"A vida nos afastou e nos aproximou", começou Barroso, olhando para Gilmar. "Fico feliz que tenha sido assim, e sou grato pela sua parceria valiosa, nos dois anos de minha gestão, e por sua defesa firme do tribunal, nos momentos mais difíceis."


"Sua Excelência sabe do apoio que eu lhe prestei, e não foi nenhum favor, mas na verdade um dever, durante esses dois anos difíceis. Opero, sempre que posso... (a voz embargada é socorrida por um gole de água) .. como um paradigma da ética da responsabilidade, de que fala Weber, e que é um clássico. Por isso, não guardo mágoas."

Estão revogados, assim, tanto o parecer emitido há sete anos por Barroso quanto o troco dado por Gilmar.


Trechos do parecer: "Você é uma pessoa horrível... uma mistura do mal com pitadas de psicopatia... uma desonra para o STF... temperamento agressivo, grosseiro e rude... você nos envergonha...".

O troco, repetido aos gritos: "Então, feche o seu escritório! Feche o seu escritório!".


A reconciliação liberou o decano para concentrar-se em Luiz Fux. Antigo desafeto, o único juiz concursado do STF voltou à mira de Gilmar com o voto solitário que implodiu, no julgamento de Jair Bolsonaro e aliados do ex-presidente, a fantasia forjada para acusar os réus de criarem um tipo de golpe de Estado que dispensa tropas, comandante, armas e planos.


Bastam um esquema de abastecimento.baseado num carrinho de algodão doce, um batom e a mobilização de centenas de paisanos inconformados com a posse do presidente condenado por ladroagem em três instâncias e resgatado da cadeia por Gilmar e seus parceiros.


O cartel do brigão inclui ataques de baixíssimo nível a adversários nada combativos. Cármen Lúcia, por exemplo, virou discípula. Nunes Marques ouviu em silêncio a mesma ladainha - "Não há salvação para o juiz covarde" - e em silêncio continua. Ricardo Lewandowski, também insultado, já caiu fora do tribunal. Joaquim Barbosa levou o decano às cordas, mas preferiu deixar a corte antes da hora. Um possível oponente, André Mendonça, nunca vai além do segundo round. Sobrou Luiz Fux, o alvo da vez.


Na quinta-feira, o magistrado solitário foi novamente provocado por Gilmar. Ainda inconformado com o voto desmoralizante para carcereiros compulsivos, o decano enfureceu-se com o pedido de vista que interrompeu temporariamente a perseguição sofrida pelo senador Sergio Moro. "Vê se consegue fazer um tratamento de terapia para se livrar da Lava Jato", caprichou na redundância o gerentão do Supremo. "Eu o critico publicamente por considerá-lo lamentável".


Tomara que Fux tope o confronto e se inspire no exemplo dos brasileiros de Lisboa.

O que anda sobrando no Brasil é valentão que, chamado para uma briga de verdade, sai à francesa por falta de coragem física.


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