A democracia aprisionada

O processo kafkiano que levou à prisão Jair Bolsonaro e colaboradores civis e militares de um governo sem corrupção diz muito mais sobre os carrascos, que antes haviam condenado centenas de brasileiros sem prova alguma, do que sobre os sentenciados. Em seu enésimo ato de exercício arbitrário das próprias razões, o ministro Alexandre de Moraes, já sancionado pelos Estados Unidos por violação aos direitos humanos, encerrou o processo antes que as defesas apresentassem recursos finais previstos na lei. Lembrei do clássico Sinal Fechado, de Paulinho da Viola - "Me perdoe a pressa. É a alma dos nossos negócios." Quem acompanha escândalos como o roubo dos aposentados e o golpe do Banco Master, dois casos em que ministros do governo e do Judiciário têm explicações a dar, haverá de entender por que, no Brasil de nossos dias, toda honestidade será castigada. Que o digam os executivos da Caixa Econômica Federal que ousaram apontar riscos e inconsistências em operação com o Banco Master e, em vez de reconhecimento por seu zelo e profissionalismo, sofreram represália interna.

Ao enterrar Bolsonaro vivo (por enquanto) e perseguir, um por um, todos os nomes ligados à família do ex-presidente, o regime STF-PT ingressa, agora, em um terreno minado. Perderá o endosso automático da chamada grande imprensa. Depois de ter fechado os olhos para as truculências de Alexandre de Moraes et caterva, jornais e jornalistas aos poucos saem do transe em que se enfiaram pela repulsa a Bolsonaro e contemplam o resultado nada edificante da obra que empreenderam. Algumas análises e editoriais já trazem um mal disfarçado arrependimento, exortando o Supremo Tribunal Federal a agir, "a partir de agora" dentro da lei. Tolice. Impossível esperar mudança de comportamento - a chamada "autocontenção" - de quem se lambuza, impunemente, do poder sem limites.


De todo modo, além de ver arrefecer o adesismo de setores influentes da mídia, a corte terá de lidar com sanções internacionais por violação de direitos humanos e outras acusações que o mundo conheceu pelos artigos da colunista Mary Anastasia O´Gradi, do The Wall Street Journal. Em agosto, em artigo intitulado "Um Golpe de Estado na Suprema Corte do Brasil", Mary expôs corretamente o ano de 2019 como o marco inaugural dos abusos da juristocracia brasileira (o público de ZH já havia lido sobre isso neste espaço, em mais de uma oportunidade).


Só quem pode restituir a democracia no Brasil é o povo - se as eleições forem livres; se elegermos senadores pró-impeachment de alguns ministros do STF; e se a corte, hoje dona do poder absoluto, for submetida à soberania popular e devolver o poder. Como, aliás, fizeram os militares, de forma pacífica, a partir dos governos Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo.


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