A Presença de Negros e Mulatos na Elite do Brasil Império

Henrique Dias
 Ele perdeu uma mão em batalha, mas continuou lutando. Henrique Dias liderou soldados negros, libertou escravizados e ajudou a fundar o Exército Brasileiro.

O Império do Brasil teve inúmeros negros e mestiços detentores de títulos de nobreza, como o Barão de Guaraciaba (fundador do Banco de Crédito Real de Minas Gerais ), e; também, vários ministros de Estado negros, como o Visconde de Jequitinhonha (Ministro da Justiça em 1837), o Visconde de Inhomirim (Presidente do Banco do Brasil em 1865), o Barão de Cotegipe (mais tarde , Presidente do Conselho de Ministros em 1885 ), o Dr. Joaquim Cândido Soares de Meireles (1797-1868), fundador, idealizador e primeiro presidente da Academia Imperial de Medicina (hoje Academia Nacional de Medicina) e Patrono do Serviço de Saúde da Marinha do Brasil, o Conselheiro Crispiniano, o engenheiro André Rebouças, (líder intelectual do Movimento Abolicionista) e o Conselheiro Francisco Otaviano de Almeida Rosa, (representante do Brasil na assinatura da Tríplice Aliança contra o Paraguai) que galgavam os mais altos postos na sociedade. 

André Pinto Rebouças

O engenheiro, banqueiro e jornalista André Pinto Rebouças (1838-1898) projetou o mais complexo empreendimento de Engenharia do Brasil na época, a Estrada de Ferro Curitiba Paranaguá, construída entre 1880 e 1885 por Antônio Ferrucci e João Teixeira Soares, que possui 110 quilômetros de trilho.
Além da Engenharia, André Rebouças se dedicou a projetos políticos e econômicos que visavam à modernização da infraestrutura do país. Em seu livro Agricultura Nacional: Propaganda Abolicionista E Democrática de 1883 defendia a Abolição da Escravidão, a educação e a reforma agrária aos ex-escravos.
A trajetória de Rebouças, como abolicionista, revela não apenas a sua contribuição intelectual no contexto do ideário da abolição, mas também a sua efetiva atuação no movimento desde os seus primórdios. 

Nomes como Teodoro Sampaio, Juliano Moreira, Tobias Barreto, Antônio Pereira Rebouças, Francisco de Paula Brito, o Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcelos, Machado de Assis, Carlos Gomes, Ernesto Carneiro Ribeiro, Antônio Ferreira Cesarino, Graciliano Fontino Lordão, Hemetério José dos Santos, Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, Cruz e Sousa, Bernardino de Campos, Domício da Gama, Francisco Glicério, Dom Silvério Gomes Pimenta, Dom Luís Raimundo da Silva Brito,  José do Patrocínio, Estevão da Silva, Maestro Henrique Alves de Mesquita, José Ferreira de Menezes, Natividade Saldanha e Luís Gama, tiveram lugar de destaque nas artes, ciências ou na política no Brasil .

Francisco de Paula Brito

Francisco de Paula Brito (1809-1861), fundador do jornal "O Homem de Côr" (1833), o primeiro periódico da imprensa negra brasileira.

Muitos desses homens eram filhos e netos de escravos que se afastaram do cativeiro, ascenderam socialmente e ocuparam cargos em áreas que vão da medicina até o jornalismo e a política.

Observadores estrangeiros como o Conde d'Eu, e o Conde Gobineau, notaram em suas primeiras impressões a "facilidade da ascenção social entre os homens de cor"

Francisco Paulo de Almeida 

Francisco Paulo de Almeida (1826-1901), primeiro e único Barão de Guaraciaba. Distinguiu-se por ter sido financeiramente o mais bem-sucedido negro do Brasil Monárquico. Possuiu diversas fazendas. Com uma fortuna estimada à época em setecentos mil contos de réis. Foi proprietário do emblemático Palácio Amarelo na cidade de Petrópolis. Foi sócio-fundador do Banco Territorial de Minas Gerais e do Banco de Crédito Real de Minas Gerais

Em 1850 os negros e mulatos livres representavam 42,7% da população. À época, de cada quatro negros três eram livres. Muitos deles se destacavam nas instituições de ensino, nas artes e sobretudo na imprensa

A ascensão social foi sempre mais fácil para o mulato do que para o negro. Quanto mais clara sua pele, quanto menos estigmatizado pelas características raciais, tanto mais fácil seria sua ascensão social. O desenvolvimento urbano, a multiplicação dos serviços burocráticos e administrativos depois da Independência, o crescimento do comércio, a progressiva eliminação do trabalho escravo nos núcleos urbanos e sua concentração nas zonas rurais, as novas oportunidades que o trabalhador livre encontra no decorrer do século XIX criaram maiores possibilidades de ascensão para os negros e Mulatos livres.

Teodoro Fernandes Sampaio

Dr. Teodoro Fernandes Sampaio (1855-1937) foi um Engenheiro, Geógrafo e Linguista Baiano.
Teodoro Sampaio, filho de uma escrava negra, foi um dos maiores pensadores brasileiros de seu tempo. Engenheiro por profissão, legou-nos uma bibliografia de vasta erudição geográfica e histórica sobre a contribuição das bandeiras paulistas na formação do território nacional, entre outros temas.
Igualmente digna de consideração foi sua contribuição ao estudo de vários rios brasileiros, de pinturas rupestres em sítios arqueológicos nacionais, do tupi na geografia brasileira e da geologia no País. Neste campo, a geologia brasileira, participou de momentos marcantes, como a expedição de Orville Derby ao vale do rio São Francisco e de comissões específicas. Além disso, foi grande amigo de Euclides da Cunha, e auxiliou o escritor com conhecimentos sobre o sertão baiano na elaboração do livro Os Sertões. 

No Artigo "The Brazilians" o líder abolicionista americano Frederick Douglass cita em 1855 o acesso de Negros e Mulatos nos altos cargos do Governo Imperial:

“Dos sete milhões que constituem a população total do Brasil, estima-se que três milhões são escravos negros, dois milhões e meio são índios aborígines e negros livres, e o resíduo, um milhão e meio, são brancos. O estado social da população brasileira não é marcado pela distinção de cor, tão imperativa em outro país na produção de classes. No Brasil só existe distinção entre liberdade e servidão. 

Francisco de Sales Torres Homem

Francisco de Sales Torres Homem (1812-1876) Visconde de Inhomirim (Presidente do Banco do Brasil em 1865) ganhou seu título de Visconde após sua atuação no Senado do Império durante as discussões da Lei do Ventre Livre.
Era filho de um padre de vida desregrada chamado Apolinário Torres Homem e de uma quitandeira chamada Maria Patrícia, uma mulher negra alforriada. Em 1840, foi o principal redator do Maiorista, jornal dedicado a coroar definitivamente Pedro II, o que acaba acontecendo como o previsto, com o novo Imperador escolhendo um gabinete liberal.

Os negros tem acesso a tudo, e estão em posse de muitos cargos de honra e confiança, e engajados em todos os departamentos de negócios. A raça branca e a negra se encontram em termos de perfeita igualdade no intercurso social, e casam-se entre si sem escrúpulos...o escritor do (jornal) North American Review...conheceu “a esposa de um almirante, cuja pele era a mais escura entre as filhas da África” e menciona “o desalento de um agente diplomático americano, com a entrada de um coronel negro na corte, a quem ele foi apresentado. Nós temos a mesma notícia do fato que, não faz muito tempo, o embaixador brasileiro na Inglaterra (Visconde de Jequitinhonha) era um mulato, e no presente momento, uma ampla maioria dos membros do exército, tal como os oficiais, são descendentes de africanos.” 

 Fonte: Um rio chamado Atlântico: A África no Brasil e o Brasil na África. Alberto da Costa e Silva/ O Brasil por Frederick Douglass: impressões sobre escravidão e relações raciais no Império.

Brasil Imperial

Quanto a Zumbi dos Palmares, negro, escravagista e assassino, foi só uma mentira que inventaram para ignorantes idolatrarem.


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