O governo mais deficitário pós-1994 se recusa a fazer o que todo mundo sabe que deve ser feito

O Brasil caminha para ter o período de governo mais deficitário depois da estabilização de 1994 - como mostram os números abaixo - em que houve uma adaptação para levar em conta o período do governo de Dilma Rousseff; e no qual as projeções para 2025/2026 são tomadas do boletim Focus (levantamento coletado pelo Banco Central). Um déficit nominal médio de 9% do PIB em quatro anos! É uma proeza. As Necessidades Nominais de Financiamento do Setor Público (déficit) por período de governo, em % do PIB, terão sido:

    * 1995/1998, 6,0;
    * 1999/2002, 4,0;
    * 2003/2006, 3,8;
    * 2007/2010, 2,6;
    * 2011/2016, 5,5;
    * 2017/2018, 7,4;
    * 2019/2022, 7,0;
    * 2023/2026, 8,6.

Na campanha de 2022, Lula negava-se a dizer o que iria fazer em termos fiscais, escudando-se no argumento de que já tinha dado mostra de responsabilidade nos seus oito anos de governo, e que isso seria suficiente para credenciá-lo a receber a confiança da população e dos mercados.


O que ele não dizia é que quem tinha feito o trabalho duro antes tinha sido o governo FHC, que passou de um resultado primário - sem juros - nulo em 1998, para um superávit de 3,2% do PIB em 2002, exatamente o mesmo de 2003.


Nada mais diferente do quadro que seria encontrado em 2023, pois sabia-se que naquele ano a receita cairia e o gasto aumentaria, contratando-se um agravamento do problema fiscal, que foi exatamente o que ocorreu.


O resultado foi que, enquanto em 2003 houve superávit primário de 3,2% do PIB, em 2023 houve um déficit nesse conceito de 2,3% do PIB. Mesmo que se tire da conta a despesa extraordinária de precatórios naquele ano, seria um déficit de 1,4% do PIB, ou seja, quase 5% do PIB, pior do que o do primeiro ano do seu primeiro governo.


Por que vivemos uma séria crise fiscal? Porque no biênio 2023/2024 o gasto primário federal em termos reais aumentou a uma espantosa taxa acumulada de 12%, e o governo se recusa a fazer o que todo mundo sabe que deve ser feito.


Ulysses Guimarães, quando seus interlocutores se queixavam da qualidade da legislatura, dizia com fria precisão: "Está reclamando? A próxima será pior". O leitor está reclamando da trajetória fiscal no governo Lula 3? Aguarde o Lula 4.


Maquiavel dizia que, na política, é preciso ter sorte e habilidade. O fato de Lula praticar uma política econômica que, se mantida, levará ele a um beco sem saída no período 2027/2030, nos revela hoje que no balanço entre fortuna e virtú ("Virtù" é um termo italiano que, historicamente, significa virtude, mas foi redefinido por Maquiavel para se referir à habilidade, coragem e força de um governante em conquistar e manter o poder.), o sucesso da sua primeira passagem pelo Planalto se deveu muito mais à primeira (e a FHC) do que à segunda.


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