O Negro nas Forças Armadas do Brasil Império

 

Tenente Coronel João Batista de Faria

Desde o início da Colonização Portuguesa do Brasil o negro esteve no despertar dos espíritos das Forças Armadas e de Nacionalidade Brasileira, até a Independência foi mantida a tradição dos Regimentos dos Henriques, unidades compostas de oficiais e soldados negros, "consagração da raiz negra das Forças Armadas do Brasil".

Unidades com este nome foram organizadas em Pernambuco, Bahia, Minas e Rio de Janeiro. Alguns desses homens da Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro se fizeram presentes na pacificação de rebeliões e novas conquistas territoriais

No período da Fundação do Brasil Império na Sangrenta guerra pela independência contou com a força dos dos regimentos Henriques que e sua grande maioria apoiaram Dom Pedro I após a proclamação da Independência do Brasil em 1822, e foram renomeados de “Batalhão dos Henriques da Corte” pelo Imperador, e participaram da Guerra da Independência da Bahia em 1823 e da Guerra da Cisplatina em 1825.

Nesse período também surgiu os "Libertos Imperiais" unidades compostas de soldados pardos e negros que lutaram na Guerra da Independência da Bahia.

Entre esses soldados que mais se destacaram na Guerra estava o Tenente Coronel João Batista de Faria, africano de nascimento, subiu ao posto de Tenente Coronel por sua bravura no campo de Batalha, ou Capitão João Theodosio, apelidado de “Capitão Bonaparte” do Batalhão dos Henriques que se tornou chefe da guarda do Palácio de São Cristóvão.

Após a Independência do Brasil, a proeminência de portugueses na Marinha Brasileira foi substituída pelo recrutamento em massa de homens negros e mestiços, pois se questionava a lealdade dos marujos de Portugal ao Novo Imperador do Brasil.

Em 1822 a real situação da recém criada esquadra naval brasileira, em números de contingente, era algo preocupante. Boa parcela de seus oficiais remanescentes eram portugueses, radicados no Brasil desde a transmigração, todavia, era um  grupo não muito confiável naquela ocasião de ruptura. A solução imediata foi então, a contratação de oficiais estrangeiros, sobretudo ingleses, uma vez que a instituição naval tinha como, naquele instante, formar em tão pouco tempo, um novo quadro de  oficiais.

Oficiais e marinheiros brasileiros constituíam numero reduzidíssimo aceitaram-se até como marinheiros e grumetes, escravos oferecidos por  seu senhores, abandonando a estes as competentes gratificações.

 Qual era o interesse de um negro em lutar pela independência do Brasil?

Joaquim Nabuco, traria uma resposta interessante, talvez entre o português e o brasileiro, a simpatia pendia para o lado de cá, miscigenado, além da esperança de um futuro diferente, livre:

 "A sua própria cor os fazia aderir com todas as forças ao Brasil como  pátria. Havia nele para a raça negra um futuro. Nenhum em Portugal [ ... ] 

Dá a conspiração perpétua dos descendentes de escravos pela formação de uma pátria que fosse também sua"

O período de 1822 a 1831, foi extremamente conflituoso. O nordeste era então um pólo de resistência ao poder de D. Pedro I que se instalava no Rio de Janeiro, no sul as fronteiras ainda eram um problema mal resolvido dos tempos das missões, assim como, agora, envolvia uma questão de soberania regional no Prata, cujo resultado seria a Guerra da Cisplatina. A armada e o exército se faziam necessários e, em tão pouco tempo, não se podia estruturá-los tal qual se pretendia.

Ao mesmo tempo necessária, também temida, esta era a realidade do negro  nas forças armadas do Império, nesse momento de modernização. Nesse período conturbado muitos negros conquistaram o conhecimento de seus serviços com a elevação de suas patentes, como Augusto Neto de Mendonça, o primeiro negro capitão de Fragata da Marinha Imperial Brasileira durante a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai, o Cirurgião- Mor Joaquim Cândido Soares de Meireles, Patrono do Serviço de Saúde da Marinha do Brasil,  o  Capitão de Mar e Guerra Manoel Lopes da Cruz, o ilustre 1 º Ten de Engenheiros André Pinto Rebouças,  o  tenente-coronel José da Rocha Galvão, o Tenente Marcolino José Dias, o capitão João Francisco Barbosa de Oliveira e o Tenente Coronel Antônio José Duarte.

Outros ganhariam o respeito de seus oficiais e na memória militar após a morte por bravura em combate, como o Capitão José Elói Buri, velho veterano na Guerra da Independência morto em Curupaiti e o Marinheiro Imperial Marcílio Dias, morto ao defender a Bandeira Nacional na Batalha de Riachuelo. 

Segundo se conclui de estudos do Gen Aurélio Lyra Tavares, foi no Exército e na Marinha, como militar, que o negro encontrou um status mais digno e a melhor alternativa para escapar à situação servil, maior realização e maior confiança da sociedade, ao lhe serem confiadas armas para a defesa desta mesma sociedade.

Durante a Guerra do Paraguai, o maior conflito bélico do Brasil Império, os negros libertos, que vinham sendo incorporados á vida nacional, desde os tempos anteriores a independência, venceriam, agora, uma nova etapa, dariam um salto maior, passando á condição de soldados, de Voluntários da Pátria e marinheiros.

Nem outro sentido teve a alforria compulsória dos escravos, destinados a servirem o Exército e a Marinha. A ordem do Dia do General Osorio, em 1866, num dos instantes da campanha militar -"Soldados é fácil a missão de comandar homens livres: basta mostrar-lhes o caminho do dever. O nosso caminho está ali em frente!"- não produziria apenas justa emoção coletiva, irmanando soldados brancos e pretos, que se abraçam, no campo de batalha, a rir e chorar, esquecidos dos preconceitos de raça e mesmo de classe. Exprimindo um anseio longamente sentido de grande parte do povo brasileiro, a frase de Osório significava que ja não era mais possível voltar atrás.

Como todas as guerras, a do Paraguai não chegaria a sensibilidade a totalidade da população livre. Passado o primeiro momento de indignação contra o apresamento do "Marquês de Olinda", não conseguira despertar entusiasmo. Era nas Fazendas e não nas cidades, é que se recrutava o grosso dos contingentes militares. Pequenos sitiantes, agregados ou recém libertos das senzalas, mais do que os sinhozinhos das casa grandes e dos sobrados, formariam entre os heróis da campanha, juntamente com os soldados e marinheiros das tropas regulares, brancos ou mestiços, a maioria pés raspados

Segundo Magalhães Júnior: "a participação do Exército Brasileiro foi constante e firme, transformando-se em fator decisivo para o término da escravidão em nosso país". Ilustram, como amostragem à conclusão acima, os seguintes fatos, entre outros: 

O sentimento abolicionista que soprou dos campos de batalha do Paraguai foi ganhando corpo. Em Fortaleza, Tibúrcio Ferreira de Souza se engajou no processo. Antonio Sena Madureira recebeu, na Escola de Tiro de Campo Grande, jangadeiros que tiveram ação destacada no Ceará, na libertação antecipada dos escravos. Posições semelhantes se observaram em outros membros da 1ª Diretoria e Corpo Social do Clube Militar, em 1887-88, integrada por oficiais das Forças Armadas (Exército e Marinha). Podemos afirmar que a escravidão feria o corpo discente e docente da Escola Militar da Praia Vermelha, e profundamente o Exército Imperial, integrado por expressiva massa de negros e descendentes livres. Tornou-se um dos maiores abolicionistas o negro e ex-1º Tenente de Engenheiros do Exército André Pinto Rebouças. 

Fonte: NEGROS NA MARINHA DE GUERRA DO BRASIL (1822-1831) 

Gilberto da Silva Guizelin/O EXÉRCITO E A ABOLIÇÃO  PENSAMENTO E AÇÃO (MEMÓRIA). Por Cel Claudio Moreira / Hendrik Kraay, “'Em outra coisa não falavam os pardos, cabras, e crioulos': o recrutamento de escravos na guerra da independência na Bahia/

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