O grito de alerta de um gaúcho aos catarinenses
Que Santa Catarina não se entregue ao atraso e não confirme as previsões pessimistas de um gaúcho alcoolizado: eis a crônica de um flagrante de época e um alerta (originalmente publicado em 21/09/2015).
"Catarinense pode esperar, a tua hora vai chegar"
Num bar de Florianópolis, com a desinibição de uns copos a mais, o gaúcho amargurado batia na mesa, gritando, como quem puxa o canto da torcida: "Catarinense pode esperar/ A tua hora vai chegar!"
De início, os amigos acharam aquilo muito engraçado. Mas depois o clima foi mudando e todos ficaram nublados.
Não, aquilo não era reação de um torcedor do Grêmio ou do Internacional invejando Santa Catarina ter quatro times no brasileirão enquanto o Rio Grande do Sul só tinha dois. Era algo bem mais sério.
Um dos amigos referiu o que lera numa revista. E lá estava dito que a situação econômica de Santa Catarina era incomparavelmente melhor do que a do Rio Grande do Sul: equilíbrio fiscal, servidores com salários em dia, estradas bem conservadas, segurança pública de qualidade (baixos índices de violência), a autoestima do catarinense em alta, reduzido grau de interferência do Estado na economia e superação relativamente tranquila da crise que o governo de Dilma Rousseff plantara.
E na terra do gaúcho? Bem, no Rio Grande do Sul o desânimo era imenso: a economia encolhida; servidores públicos sem saber se tinha salário no mês seguinte; os sindicatos tentando paralisar o Estado; a polícia, em razão da crise, fazendo corpo mole; os números da violência disparando; a população acuada pela delinquência; o governador, com ar apavorado, não apontando o que fazer para reverter o quadro caótico das finanças do Estado e parecendo assumir de bom grado a culpa pelos desmandos de outros governos.
Era fácil compreender a ironia amarga do gaúcho. Depois de ouvir um relato auspicioso sobre a economia catarinense - um contraste com a penúria do Rio Grande do Sul - e ao perceber Santa Catarina navegando em mar sereno, ele deu seu diagnóstico peculiar e um prognóstico sombrio.
"Vocês aqui", disse, "ainda não tiveram um governo petista. Por isso o Estado não é um estorvo. Nós já tivemos dois no RS, eleitos exatamente quando as finanças do Estado tendiam ao equilíbrio". E acrescentou: "Mas Santa Catarina um dia também vai abraçar o atraso, pois nas universidades daqui a pregação é que nem lá, professores doutrinando a juventude para repelir tudo o que seja iniciativa privada e odiar os empresários, fazendo a cabeça da gurizada para distribuir riqueza, mas satanizando o empreendedorismo e, óbvio, desencorajando o engajamento na atividade produtiva. Donde vão tirar pra distribuir?"
E concluiu mordaz: "Vocês ainda vão cometer a burrice de eleger o PT! Aí saberão o que os petistas fazem com quem toca a economia! Intromissão estatal, corrupção programática e ferro no empreendedor..."
Aquilo era efetivamente um grito de alerta para que o catarinense não tivesse um futuro com a melancolia do presente gaúcho.
Vá saber se o silêncio dos outros então era tédio, ceticismo ou temor... E lá estava ele berrando: "Catarinense pode esperar/ A tua hora vai chegar!"
Renato Sant'Ana, Advogado e Psicólogo.
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