O cerco da CPMI a aliados de Bolsonaro
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro retirou da pauta de votação, nesta quinta-feira, os requerimentos que miram o ex-presidente Jair Bolsonaro no caso das joias sauditas, mas aprovou pedidos que atingem aliados do ex-chefe do Executivo. O colegiado deu aval à quebra dos sigilos bancário e fiscal da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e do hacker Walter Delgatti Neto e aceitou a reconvocação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Também será chamado a depor o segundo-tenente Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente.
Delgatti Neto acusa Bolsonaro de tramar para tentar invadir o sistema eleitoral com o objetivo de provar suposta insegurança das urnas eletrônicas. Ele disse que o pedido do ex-chefe do Executivo foi feito em um encontro entre os dois, intermediado por Zambelli. Já Mauro Cid é chamado de novo depois de ter ficado em silêncio na primeira vez em que compareceu ao colegiado, em julho. Nesta quinta-feira, ele esteve na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal, e também ficou calado.
O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), afirmou que o relatório final será em 17 de outubro — embora a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) enfatize que o parecer será lido apenas em novembro. Ele sugeriu que sejam aprovados somente os requerimentos "daqueles que efetivamente serão ouvidos". "A minha ideia é que a gente faça um acordo de procedimento entre governo e oposição que possa identificar quais são os depoimentos mais importantes e fecharmos esse período de depoimento", ressaltou.
Consenso, porém, parece distante no colegiado. Esta quinta-feira foi mais um dia de confusão. A sessão acabou com o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS) acusando Arthur Maia de favorecer os governistas na hora de formular a pauta. "Presidente, eu vou alertar: o senhor vai ser o pizzaiolo desta pizza que está sendo gestada nesta CPMI. O seu nome, presidente, vai entrar para a história como aquele que deixou virar pizza essa CPMI", disparou.
Maia revidou. Disse que, na próxima reunião, pautaria todos os requerimentos não apreciados, o que, em tese, incluiria os que envolvem diretamente Bolsonaro. Ao fim da sessão, amenizou a declaração. "Quem aprova é o plenário. Então, os requerimentos da minoria só são aprovados mediante acordo. (...) Eu continuarei fazendo um esforço muito grande no sentido de que esse acordo, de fato, se concretize. Mas eu também posso colocar todos se não tiver acordo", frisou.
Caso os desentendimentos voltem a acontecer, a oposição, que tenta blindar Bolsonaro, poderá sair prejudicada, uma vez que governistas, como maioria, terão o poder de aprovar com facilidade quebras de sigilo e até mesmo uma convocação do ex-presidente. O próprio senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) recuou e avaliou a atitude de Marcon como "injusta" em relação ao presidente da CPMI. "O próprio reconheceu isso ao final, e ele conversou com o presidente Arthur Maia", disse.
Segundo parlamentares governistas ouvidos pelo Correio, estava acordado que requerimentos envolvendo Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro seriam votados. Um deles avaliou que a confusão, de terça-feira, em torno dos pedidos contra Zambelli foi para dispersar essa possibilidade. "Na primeira rodada de negociação havia de fato o entendimento (de pedir pelo) RIF (Relatórios de Inteligência Financeira). E acabou que, depois, não foi possível construir nada nessa linha. Eu, inclusive, acho que é importante", disse Eliziane à reportagem.
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